O Naufrágio


A noite estava escura quando o barco pilotado por Wilson enfrentou uma forte tempestade, que o impediu de desviar da imensa parede de rochedos que se afigurava à sua frente. Sete dias se passaram e Wilson se encontrava ali, naquela ilha deserta, tendo como única companhia Tom, o seu marujo de bordo. O alimento de que dispunham estava se tornando cada vez mais escasso. Poucos coqueiros habitavam o terreno pobre e ralo de vegetação rasteira. A ajuda que tanto esperavam insistia em não aparecer e o equipamento que possuíam para a comunicação com o continente fora totalmente destruído no naufrágio.

Sem mais perspectiva, Wilson decidiu agir. Recolhendo destroços do barco que chegaram até a praia, trazidos pelas ondas, investiu os últimos vestígios de força que restavam em seus músculos na construção de um pequeno barco, que fosse de tamanho suficiente para transportá-los para qualquer lugar, evitando o terrível destino que aparentemente se configurava para si e seu companheiro.

Ao ouvir os planos de Wilson, Tom prontamente recusou-se a contribuir para tal empreendimento. Seria loucura lançar-se ao mar sem ao menos saber onde estavam. Poderiam remar dias a fio sem conseguir alcançar terra, sem contar que não dispunham de energia física necessária para isso. Na ilha ao menos ainda havia alguns cocos que poderiam mantê-los vivos por mais alguns dias, até que a sorte finalmente enviasse o resgate que tanto sonhavam. Mas sorte insistia em não ajudar. Alguns dias se passaram e Wilson conseguiu concluir a construção do pequeno barco. Era o momento de decisão para Tom. Mesmo Wilson sabia que seria difícil se jogar ao mar sem ter muitas certezas do que esperar, mas também sabia que se manter naquela situação não seria a melhor opção. Wilson acreditava que seria melhor passar por dificuldades com vista a sair daquela situação do que ficar na certeza de sobrevivência momentânea da ilha, que com o tempo o levaria a morte.

Tentou ainda uma última vez convencer Tom a ir com ele, mas Tom relutantemente recusou o convite, disse que ficaria bem melhor na ilha. Sem mais insistir, Wilson resolveu então enfrentar o mar. Enquanto o seu pequeno barco se distanciava da ilha, Wilson olhava para Tom que ficava cada vez mais distante, até o ponto de desaparecer completamente, juntamente com a ilha. Agora Wilson estava só em pleno alto mar. No inicio encontrou um mar calmo com poucas ondas e ventos, o que dificultou um pouco o deslocamento. Outro problema era a falta de alimento. A única coisa que Wilson dispunha para se alimentar era uns poucos pedaços de coco que levara da ilha. A dificuldade se tornou tanta que chegou a questionar se essa teria sido a melhor opção, mas ao pensar sempre na família que o esperava em casa, ao pensar nos amigos, ao pensar nos seus sonhos de vida, viu que valia mais a pena morrer tentando do que ter morrido na ilha. Passou-se 4 dias e todo o alimento trazido da ilha tinha acabado e para piorar a situação começou a aumentar e a ficar mais forte o vento, Wilson temia por outra tempestade e foi o que acabou acontecendo. Felizmente o barco resistiu a tempestade, mas ficou parcialmente danificado. Já sem forças Wilson ficou a deriva por 3 dias até desmaiar inconsciente.

Uma semana após ter deixado a ilha o seu barco navegou até chegar em uma pequena praia. Ao ser encontrado foi levado diretamente a um hospital local, onde ficou uma semana em observação. Após sair do hospital ainda tentou, com a ajuda da guarda costeira, encontrar a ilha que ele e Tom tinham ficado, mas como ele tinha ficado muitos dias a deriva e sem bússola ficou impossível determinar de qual direção ele teria vindo. Mesmo com grande tristeza, desistiu da busca. Nunca mais ouviu falar de seu amigo Tom. Hoje, 10 anos depois do ocorrido, Wilson se sente realizado, conseguiu abrir uma oficina mecânica e trabalha com a ajuda de seus dois filhos. No momento de maior dificuldade Wilson precisou fazer uma escolha, uma escolha que mudaria a sua vida. Todos nós fazemos escolhas. Qual a sua escolha?