Ué, cadê o divã?

Hélder Franco

A experiência de se submeter à psicoterapia é uma novidade para grande parte das pessoas, que desconhecem como é a dinâmica de funcionamento de um atendimento psicológico. Muitos fantasiam a cena de um paciente deitado sobre um divã, falando durante horas sobre sua vida, seu passado, seus sonhos e suas experiências, enquanto o terapeuta, silencioso, ouve tudo atentamente fazendo anotações num bloquinho para tentar montar o quebra-cabeça¨ que se configura diante de si. Vale ressaltar que essa postura mais ¨passiva¨por parte do terapeuta remonta aos primórdios da prática psicanalítica, em que seu principal objetivo era estimular o paciente a exteriorizar os conteúdos emocionais reprimidos visando à dissolução dos conflitos que causavam o sofrimento psíquico. É importante destacar que esta forma de atuação raramente ainda é observada nos dias atuais, mesmo entre os psicanalistas.

Seguindo uma linha de raciocínio totalmente inversa, muitos acreditam que o psicólogo seria aquele profissional cuja função seria a de fornecer respostas, solucionar os problemas. Nesse caso, o paciente deveria tão somente expôs as suas dificuldades, cabendo ao terapeuta dizer-lhe exatamente o que deverá fazer para reorganizar a sua vida. Evidentemente, essa visão também é equivocada, pois seria no mínimo imprudente por parte de alguém acreditar que possui a chave para todos os conflitos ou sabedoria suficiente para decidir o que é melhor para cada um. Durante a nossa formação profissional, estudamos hipóteses e teorias de como as pessoas funcionam, reunindo conhecimentos que irão fundamentar cientificamente a nossa prática. Mas seria um erro colossal aplicar esses conhecimentos teóricos sem considerar a individualidade de cada pessoa, bem como a sua situação de vida particular.

Dessa forma, o psicólogo não é apenas aquele que ouve as pessoas. No entanto, ele também não é aquele que fornece respostas prontas para o paciente. O que ele faz então?

O papel do terapeuta cognitivo-comportamental

Quando alguém procura o auxílio de um psicólogo, é porque provavelmente algo não vai muito bem em sua vida. Seja na esfera familiar, no trabalho, na escola ou devido a algum quadro psicopatológico, pressupõe-se que de fato existe algum problema, mesmo que não seja tão fácil assim definir exatamente qual é – ou quais são. Inclusive nos casos em que o paciente busca apenas um auto-conhecimento, possivelmente existem aspectos na sua vida que podem ser melhorados a partir desse auto-conhecimento.

Pois bem, na terapia cognitivo-comportamental trabalha-se com o objetivo de traçar soluções, buscar meios de resolver os problemas, ou amenizar o sofrimento decorrente de quadros patológicos diversos, como depressão, transtornos de ansiedade, etc. O papel do terapeuta nesse contexto seria basicamente o de esclarecer, juntamente com o paciente, os problemas que estão sendo enfrentados, discutir as possibilidades de resolução e analisar a melhor forma de colocar em prática as ações que ocasionem as mudanças desejadas. Para isso, faz uso de um conjunto de métodos e técnicas característicos dessa abordagem, com eficácia observada em diversas pesquisas anteriormente realizadas.

No entanto, o objetivo da terapia cognitivo-comportamental não se resume apenas à resolução dos problemas que o paciente está enfrentando nesse momento, mas sobretudo na resolução daqueles que ainda estão por vir. Nesse sentido, o terapeuta por vezes age como uma espécie de professor, buscando desenvolver no paciente um conjunto de habilidades das quais ele poderá lançar mão futuramente. A idéia é de que tudo aquilo que foi trabalhado nas sessões seja utilizado também lá fora, no ¨ambiente natural¨ de cada um. Como você pode perceber, o papel do terapeuta não é o de fornecer respostas prontas, mas auxiliar e estimular o paciente a traçar ele mesmo os seus próprios caminhos.

A partir disso, podemos concluir que não somente o terapeuta tem uma função importante no processo de psicoterapia. O paciente também tem um papel fundamental. Qualquer tipo de resultado só poderá ser alcançado se o paciente estiver de fato motivado e implicado na busca das mudanças almejadas. Paciente e terapeuta trabalham o tempo todo em conjunto, numa relação que é essencial para o sucesso da terapia. Freqüentemente, o terapeuta solicita o cumprimento de certas atividades fora do ambiente da clínica, as chamadas tarefas de casa. Tais procedimentos, que podem consistir no preenchimento de algum formulário de avaliação ou na realização de algum ato de valor terapêutico, fornecem para ambos um parâmetro confiável de quanto progresso está sendo alcançado no trabalho. A proposição e realização das tarefas de casa são um componente essencial e indispensável na terapia cognitivo-comportamental, sobretudo por permitir que o aprendizado seja generalizado para outras situações fora do ambiente clínico e sem a intervenção direta do terapeuta.

Portanto, não se assuste ao se deparar com um terapeuta um pouco mais ativo e ¨falante¨. Tampouco fique frustrado(a) se ele não fornecer de imediato as respostas que você tanto anseia. Às vezes, questionamentos são mais úteis que afirmações ou conselhos. Lembre-se que você tem uma boa parcela de responsabilidade no tratamento. Além disso, você pode transformar a terapia num aprendizado para que no futuro VOCÊ seja seu próprio terapeuta.